Fim das escolas cívico-militares repercute entre estudantes e escolas

escola cívico militar

Escolas Cívico-Militares Chegam ao Fim: Impactos e Polêmicas

O Ministério da Educação (MEC) anunciou recentemente o processo de extinção do Programa Nacional

das Escolas Cívico-Militares (Pecim), que vinha sendo uma das principais iniciativas educacionais do

governo. Essa decisão gerou intensos debates e opiniões divergentes, dividindo a opinião pública entre

defensores e críticos do modelo. Nesta postagem, exploraremos os impactos e as polêmicas em torno do

programa, suas características, bem como as razões que levaram à sua extinção. Além disso,

discutiremos o posicionamento de diferentes grupos, como a União Brasileira dos Estudantes

Secundaristas (Ubes) e a Associação Brasileira de Educação Cívico-Militar (Abemil). Vamos mergulhar

nesse assunto com detalhes para entender as implicações dessa medida para a educação no Brasil.

O que era o Programa Nacional das Escolas Cívico-Militares?

O Programa Nacional das Escolas Cívico-Militares foi uma das principais bandeiras do governo anterior,

liderado por Jair Bolsonaro. Ele consistia em uma parceria entre o MEC e o Ministério da Defesa, com o

objetivo de implementar um modelo de gestão escolar que envolvia a atuação de militares da reserva das

Forças Armadas, policiais e bombeiros militares nas escolas públicas.

Nesse modelo, os militares ficavam responsáveis pela administração escolar e pela disciplina dos

estudantes, enquanto os professores mantinham a função pedagógica. As escolas cívico-militares

também possuíam regras rígidas de aparência para os alunos, como coques para meninas e cabelo no

padrão baixo (cortado com máquina dois) para meninos, além de proibir o uso de piercings e outros

adornos.

Opiniões divergentes

A extinção do Pecim provocou reações diversas. A Ubes, representante dos estudantes secundaristas,

comemorou a medida, destacando que o modelo cívico-militar privava os estudantes de liberdade de

expressão e não estimulava o pensamento crítico, resultando na exclusão de uma parcela dos estudantes.

Para a Ubes, a escola deve ser um espaço democrático que incentive o protagonismo dos estudantes e ofereça infraestrutura adequada, incluindo escolas técnicas.

Por outro lado, diretores e membros de escolas cívico-militares, como o Colégio Estadual Beatriz Faria

Ansay em Curitiba, no Paraná, expressaram preocupação com o fim do programa. Muitos consideravam

a implementação do Pecim como uma vitória para a comunidade, pois o modelo trouxe melhorias

estruturais e pedagógicas, transformando escolas antes desacreditadas em instituições cuidadas e

valorizadas pela comunidade.

Os Impactos do Programa

Ao longo de sua implementação, o Programa Nacional das Escolas Cívico-Militares gerou uma série de

impactos. Algumas escolas relataram resultados positivos, como o aumento no Índice de

Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) e a melhoria na disciplina e infraestrutura escolar.

A gestão militarizada foi elogiada por alguns pela ordem e disciplina imposta nas instituições de ensino.

Contudo, o programa também recebeu críticas e denúncias de abusos de militares nas escolas e exclusão

de professores e alunos que não se adequavam ao modelo. A rigidez nas regras de aparência e

comportamento foi vista como uma limitação à liberdade individual dos estudantes. Muitos

argumentaram que o papel da escola não deveria ser o de impor uma visão única, mas sim de acolher

todas as crenças e orientações de forma inclusiva.

O Modelo das Escolas Cívico-Militares e a Legislação Educacional

A professora Catarina de Almeida Santos, da Faculdade de Educação da Universidade de Brasília (UnB)

e integrante da Rede Nacional de Pesquisa em Militarização da Educação, apontou que o modelo cívico-

militar não está em conformidade com a legislação educacional vigente. Segundo ela, a atuação de

militares nas escolas não está prevista em lei, tornando o modelo uma abordagem não regularizada do

sistema educacional brasileiro. Além disso, Santos enfatizou que o modelo cívico-militar é excludente, pois tende a deixar de fora estudantes e professores que não se adaptam a suas regras rígidas. Essa exclusão pode resultar em transferências de alunos e professores para outras escolas, prejudicando a diversidade de ideias e perspectivas dentro do ambiente escolar.

As Razões do MEC para a Extinção do Pecim

O MEC divulgou uma nota técnica em que explicava as razões para a extinção do Programa Nacional das Escolas Cívico-Militares. A nota mencionou problemas de coesão normativa entre a estrutura do programa e as bases legais do sistema educacional brasileiro, assim como a utilização indevida das forças armadas em atividades que não condizem com sua expertise e lugar institucional no ordenamento jurídico do país.

O documento também apontou a baixa execução orçamentária dos recursos destinados ao programa ao longo dos anos, o que comprometeu investimentos em outras áreas prioritárias da educação. A justificativa para a existência do programa foi considerada problemática, visto que o modelo de gestão cívico-militar não se mostrou uma solução abrangente para as questões sociais enfrentadas pelas escolas públicas.

Esclarecimentos da Associação Brasileira de Educação Cívico-Militar (Abemil)

Após a divulgação do ofício do MEC, a Abemil divulgou uma nota de esclarecimento informando que a decisão do MEC não afeta as escolas cívico-militares que foram implantadas e mantidas pelos próprios municípios. A associação destacou que o programa poderá ser conduzido por cada ente federado, pois existe legislação que ampara e legitima sua continuidade. A Abemil ressaltou que o próprio documento do MEC reconhece a eficácia das escolas cívico-militares ao mencionar que não deve ocorrer o comprometimento das conquistas de organização que foram mobilizadas pelo programa. No entanto, a reintegração dessas escolas aos respectivos sistemas de educação (Secretarias de Educação) deve ser bem planejada e organizada.

Escolas Cívico-Militares e Seu Término

O fim do Programa Nacional das Escolas Cívico-Militares trouxe à tona debates relevantes sobre o papel

da escola pública, a inclusão e a diversidade de ideias no ambiente educacional. Defensores argumentam

que o modelo trouxe melhorias em algumas escolas, mas os críticos destacam que ele pode ser

excludente e não está de acordo com a legislação educacional.

O futuro da militarização na educação brasileira é incerto, e os próximos passos dependerão das decisões

dos governos locais. Nesse contexto, é essencial promover discussões abertas e inclusivas para encontrar

caminhos que valorizem a educação pública e respeitem a diversidade de pensamentos e perspectivas de

toda a comunidade escolar.